domingo, 25 de dezembro de 2011

paz

natal é canto de paz
sarinho,
trinando alto,
tinindo:
nasceu um menino, nasceu um menino,
aleluia, ei!
quantos meninos nascem
a cada segundo?
o mundo,hummm, o mundo
é uma bola de gude,
é uma bala de goma,
o mundo está em gesta:
nasceu um  menino
e o passarinho canta
na floresta.

sábado, 17 de dezembro de 2011

fotografia

repousa sob mim
tua lembrança
branca fumaça
que se esvai
no tempo:
ontem, ontem,
totens, tudo
nus brincávamos
na ciranda
de corpos:
puros, 
sujos,
porcos,
anjos,
gozo ininterrupto
no vigor dos anos.


repousa hoje 
na parede branca
um sombra vaga
duas sombras tontas
de tantos quereres
mas o tempo frágil
já se foi
:fotografia.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Tereza Primola


A poeta que lhes trago hoje vem de Alvinópolis- cidade pequena encravada entre as montanhas das Gerais, berço de poetas, terra de músicos, de artistas de todos os naipes...
o sentimento mineiro perpassa estes poemas, que extraí do site www.overmundo.com.br- perfil Tereza Primola - e seus silêncios falam mais do que mil palavras...
o mineirismo aqui explode, muito silencioso, muito zen, uma busca pela paz interior que se encontra, quem sabe, no riscado ingreme dessas montanhas nossas de cada dia...
e o sentir do tempo, odesfiar das contas, o desenrolar das histórias, tudo é gostoso de se ler
e de se sentir:
aí vão cinco poemas:  

LEMBRANÇAS DE LÁ 

Bambolê, amarelinha,
queimada, barquinho, regato
bala de bico...
brevidade - a vida é breve!
Bola de gude- sei lá!
É a vida...

Assim,com reticências e acontecenças
se faz história.
Assim se contam estórias num belo teatro
estórias de outros tempos
em que meninos brincavam
com bichos, plantas, pipas
e a rua era 
terra livre, plena de aventuras.

Rezava-se terços, o sino soava
e sorria para a praça.
E um desenrolar de folhas
no desenrolar dos novelos urdidos.

Nos teares daquele tempo
eram tecidos e tecidos
contos e cantos de roda
e casos, da infância ida,
dos dias vividos, vívidos na memória,
dos ares passados
por entre montanhas
em meio aos vales
e margens dos rios.

Entre casas, silvos e amigos
Alvinópolis - pequenina, ardeente e bela
(ainda mais pequenina 
na infância distante).

Cotidiano

Estamos presos, 
por fios de seda
aos designios divinos
e a vida corre
em nossas veias
como um vinho raro
que sorvemos, gole a gole,
como se fora o néctar
das vinhas de Deus.

Vivemos. E isto nos basta
pois é grande e belo
o ofício de viver.
E por vivermos, 
sonhamos,
e agimos,
esperamos
e nos deitamos às sombras
das frondosas árvores
comendo dos frutos
do conhecimento
qual Adões e Evas redivivos
ressurgidos das próprias
cinzas
fênixes desenjauladas.

E assim caminhamos. 
Até onde
ainda não sabemos. 
Apenas sabemos
do prazer da caminhada 
da brisa que sopra no rosto
do gosto da fruta
que nos mata a fome
e do frescor da água
que nos reanima.

E basta-nos isto
nada mais do que isto:
respirarmos e amarmos
para sermos felizes


Maçã em papel de seda
 Pressentir
o sabor da maçã 
adivinhado no papel
azul que a embrulha.

Perceber
o belo da flor de maio
pelo seu cheiro
aroma que invade
o quarto.

Antegozar
as delícias da luz
pelo entrever das frestas
que se infiltram
na caverna escura.

Seguir assim.Adivinhando
delícias
nos jardins do Éden
e seguir
passo a passo
um passo de cada vez.

A vida se faz assim.
A cada dia, um canto novo
um novo olhar
um re-caminhar.

Nas curvas do tempo

Pela janela, olho
o desfiar do tempo
que nos antecede
que nos sucede,
sinto a sede
das coisas que insistem
em querer ficar
vivas,na lembrança.

Volto à infância
tempo de puros
momentos lúdicos
ilógicos
jogos de armar
encantamentos primeiros
e me descubro
assim como flor, 
que fenece,
sem saber o porquê.

Parece que foi ontem.
Menina, já prá escola!
Menina, prá dentro, 
Menina, seu pai não gosta
de saia curta e baton!
Menina, cuidado com a vida,
Menina, cuidado com o mundo!
E eu a me balançar
no balanço do tempo.

Olho lá fora, as estações
que se sucedem
indiferentes à queda
ou ao vô dos pássaros,
das flores,
das coisas,
e me sinto assim,
perdida no tempo.

Onde foi que deixei
meu coração?
Onde foi que esqueci
os sonhos todos?
Em que gaveta guardei
os meus segredos?

Meus modos,
meus medos
meus gritos mudos,
Quando foi que me esqueci
numa curva qualquer
da minha estrada
?


Visão do paraiso

Singrar-me
as veias
sangrar-me
os mares
jorrar-me
as marés
sujar-me
como ári
dos novelos
cantar-me
como árias
italianas
entoar-me
como cântico
dos cânticos
sonhar-me
como alvos
rouxinóis
como sóis
brilhar-me
e enfim
deixar-me
como endeixa
ao luar.

Pousar
como pássaro
e re-pousar
no teu colo
porto meu.




sábado, 1 de outubro de 2011

mesmo que tardes

 imagem:  richard cawood/flickr

entranhando-nos
estranhamos
nossos interiores.
estagnamo-nos
como estalagmites
nas cavernas profundas
sem coragens.com voragens
de monstros
que não sabem se voam,
hiero-grifos ou pégasus
ou se hibernam
mamutes
preancestrais.
e a poesia
o que tem a ver,
com isso?
tudo.
caminho de redescobertas
mesmo que tardes.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

mosaicos


  • imagem: mmarftrejo/flickr


maria joão josé
pedro paulo roberta carmem
elena irina nina
cláudia marece milena
paulo joaquim
mimi
contas de um colar
cantos de calor interior
vidas:
o filho fugiu de casa
a menina está grávida
aos doze
o pai mora na espanha, nem sabe
qual vai ser a cor
dos olhos do seu filho:
seus filhos
são os que virão?
 menino atropelado
pelo bêbado
baleado
na porta da festa
basta
a mulher
nas curvas do tempo
na cadeira de rodas
esclerosesmúltiplas
dores, sem rumos,
sem prumos
uroborus
engolindo o rabo
ri de todos nós:
o ralo é aí, logo abaixo,
e o infinito é um 
jogo de sedução:
marias,robertos, joanas,
paulinhos, claudios e jorginas
meirices, candices,
sandices:
afinal, quem somos nós
nesse mosaico?

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

circulos de giz

imagem: flickr/jonny wonny


riscamos circulos de giz
como a querer imitar espaços
entre desvãos
onde nos encontramos desvalidos
e não nos entendemos como seres
Com propósitos definidos. indeciframo-nos
a cada frame, a cada quadro em movimento
nos quedamos, impregnados
de cheiros de guerras e garras
de pássaros
que voam raso estraçalhando
Cordeiros
aves de rapina, aves de arribação
somos nós?
dentro dos círculos de giz
A vida pode fruir muito mais lenta,
horas que passam não passando
surpresas zero
sentimentos calculados
frio, muito frio,
em piso de pedra
e espiral
de cal.
mas fora do circulo a vida urge
e o sol se insurge,aquecendo
as pedras frias, sonolentas
e as águas, que escorrendo,
desfazem os círculos de giz.
é a vida que ruge,
feito um leão aprisionado
e diz:
há mais, muito mais
as aves alçam seus voos
e navegam estranhezas
quando a noite cai.                  
 

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Estação quarta

Da dor

quando a mansidão e a delicadeza encontram a dor e o desgosto,
o descaso e o sofrimento, o corpo padece e a alma sofre
nada há no mundo que se compare à dor da perda: uma estação no inferno, eivada de lamentos e horrores, uma viagem nas barcas solitárias dos homens ermos, que de repente se encontram órfãos: de pais, de mães e de si mesmos,
exilados de seus próprios corpos

das descobertas

primeira estação, segunda, terceira, quarta estação: estações:
bordo, bombordo, estibordo, aeroportos, aeroplanos, tantos planos,trens,
gares e galeras, galerias dos que se foram,
memorias dos que virão, VERÕES verões
estações de idas, de voltas, a descoberta dos primeiros amores,
numa estação,oracoes, erecoes, num estar são assim de bem com a vida,
num barco a vela, num avião, numa jangada,
titanic reinventado,
uma quilha,
na pilha
uns amores inteiros:
descobertas.

dos ires e vires

depende. de repente
qual é a quarta estação? depende
do nosso estado. de corpo, de espírito,
do nosso estado de estarmos
tranqüilos e serenados, espinha reta,
dedo em riste,
carne dura
mente abertalerta ao infinito:
assim, é primavera:
plenitude, aberturas, cheiros,
cores, planos,
pianos ao luar, sóis refulgentes:
gente que ziguezagueia
como abelhas
se afogando
nos néctares alheios.

se estamos no entanto,
em épocas outras,
de desencantos, de desaalentos,
de corpos mornos,
porém sozinhos
sem tônus,
a quarta é o outono:
folhas que caem,
versos que se apagam
poetras que cantam
como quem morre
de ócios e vícios
cigarras temporas

se os corpos queimam,
e as veias ardem
os sentidos
se alardeiam
aos quatro ventos
somos das águas, dos mergulhos exteriores
somos verão
desfrutares somente
nao interiores.

se o corpo cedea ao peso
de tantos planos,
de tsantos caantos
desencantados
de tantos brados
tantos braços
todos os abraços
partidos:
os tempos idos,
vívidos na memoria
que se insistem jovens
em corpos fracos
a estação quarta
nos inverniza:
e não há vernizes
ou retóricas
que nos tragam os lírios
que levaram os rios.

choram as flores
deixadas ao relento
ao sabor das águas.

Se os corpos se acendem
E as veias ardem
Em sentidos primários
Se alardeiam
Aos quatro ventos
Somos a estação
dos mergulhos exteriores
Somos verão
do corpo: não alma:
Desfrutrares somente
Sem interiores.

Se o corpo cede ao peso
De tantos planos,
De tsantos caantos
Desencantados
De atantos brados
De tantos braços
De todos os abraços
Partidos:
Os tempos idos,
Vívidos na memáoaria
Que insistem jovem
Em corpos fracos
A estação quarta
Nos inverniza:
E não há vernizes
Ou retórias
Que nos tragam os lírios
Que levaram os rios.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

canto dos silencios

nestas noites escuras e absolutas
de breu escancarado como bocas
a devorar rotinas
como pinturas de goya
ninguém pode ou vir os gritos
desta alma silenciosa
que no frenético carrilhão
de sinos estridentes
ou de carrosséis inocentes
de gentes nem tanto
se queda, impávida,
e se recolhe aos seus
íntimos domínios.

será o caminho este único
rúnico destino de dúvidas
e temores
este desfiar de rosários
de rosas ressecadas
dissecadas visceras
sem virtudes ou culpas?

nestas noites sem rumo
sem estrelas nem cometas
apenas negrume
entrego-me aos vícios das horas
e deixo que o corpo adormeça
em brasa
embora febres
não nos tragam alívios:

nestas noites escuras e absolutas
ninguém sabe ouvir os cantos
ou os silêncios
de corações emparedados
entre muralhas.



terça-feira, 28 de junho de 2011

depois do escuro,


imagem: Giara/Flickr

,sem rumo rima ramo roma aroma de romã
Sigo
E persigo
A rosa mística
A música inefável
A única
Túnica inconsútil
De que já ouvi falar.
Flano
Entre planos e panos
E alheio me escuso
Em escudos
Que imagino
Contra mesmices,
Anemias e tédios:
Ando assim: lírico,
Místico, laico,
Numa preguiça danada:
Caralho, que coisa chata
Este não ter rumo,
Não ter lida,
Estes bocejos vãos.
Mas e daí?
Fechar p aortas,
Bater porteiras,
Pendurar chuteiras
Nada não.
Vamos por aí
Sem ais
Como um riso rasgando a cara
Até a cena final:
Afinal,
Belo é o estar vivo
E adivinhar o sol
Depois do escuro,

(para a poeta e amiga - Adriana Godoy)

terça-feira, 14 de junho de 2011

litania


imagem: Faber.Gray(Flickr)





não. não viver assim, feito caramujo


se escondendo nas conchas
se enroscando feito centopéia
quando pressente outro pé
se esgarçando nas canchas
nos cantos nas manchas
dos caminhos, temendo as claridades
e seus reflexos, comjo vampiros toscos
tortos fartos de mil anos de escuridão.

sim. entregar-se à vida e não temer


os outros. ser como os rapazes
rapaces
que agarram as moças
e as encoxam
em qualquer canto agarram as moças
e as fazem sentir o fogo do desejo
queimando as entranhas:o sexo
duro, celebrando a vida
e jorrando gozo pelos corpos:
preito à vida.
nunca ser como os rapazes tímidos,
enclausurados em grades
imagéticas
de moças intransponíveis
e nebulosas
que levam a sós para suas camas
em sonhos de punhetas
soturnas e solitárias:
celeabração do tédio.

não. não ser como estes seres


entravados
estorvados que se esquecem nas esquinas
agarrando as bolsas contra os peitos
murchos e caiados
decadentes desejos aflorando
vez em quando, em esgares
de risos frouxos.

sim. ser como os aventureiros


que desbravam cenários, arrebentam portas,
explodem buzinas, navegam sem bússolas
e sem rotas:
não querem retas, querem curvas
que é um caminho mais curto
entre os estares
e as estrelas.

não sim não sim
não.
a vida nos pede,
a cada dia,
brinde e celebração:
litanias à nós.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

serguei iessiênen


imagem: Melody/Flickr

Hoje o poeta de segunda é um camarada do início do século vinte, um cara cujos escritos inspiraram Maiakovski, um poeta de cujos versos escorre sangue, de palavras que explodem nas veias, de sentimentos exacerbados e de uma beleza que dói.

Serguei Iessiênin nasceu em 1895 e foi um dos maiores poetas russos. Aos 30 anos suicidou-se num quarto de hotel em Leningrado cortando os pulsos e se enforcando. Alcoólatra, casou cinco vezes e três de suas esposas foram a atriz Zinaida Raich, a dançarina americana Isadora Duncan e a neta de Tolstoi. Contudo, o que é pouco mencionado foram seus relacionamentos clandestinos com homens. Antes de suicidar-se escreveu com sangue um poema de despedida dedicado ao poeta Anatoli Marienhof, com quem vivia há quatro anos


A confissão de um vagabundo

Nem todos sabem cantar,
Não é dado a todos ser maçã
Para cair aos pés dos outros.

Esta é a maior confissão
Que jamais fez um vagabundo.

Não é à toa que eu ando despenteado,
Cabeça como lâmpada de querosene sobre os ombros.
Me agrada iluminar na escuridão
O outono sem folhas de vossas almas,
Me agrada quando as pedras dos insultos
Voam sobre mim, granizo vomitado pelo vento.
Então, limito-me a apertar mais com as mãos
A bolha oscilante dos cabelos.

Como eu me lembro bem então
Do lago cheio de erva e do som rouco do amieiro,
E que nalgum lugar vivem meu pai e minha mãe,
Que pouco se importam com meus versos,
Que me amam como a um campo, como a um corpo,
Como à chuva que na primavera amolece o capim.
Eles, com seus forcados, viriam aferrar-vos
A cada injúria lançada contra mim.

Pobres, pobres camponeses,
Por certo estão velhos e feios,
E ainda temem a Deus e aos espíritos do pântano.
Ah, se pudessem compreender
Que o seu filho é, em toda a Rússia,
O melhor poeta!
Seus corações não temiam por ele
Quando molhava os pés nos charcos outonais?
Agora ele anda de cartola
E sapatos de verniz.

Mas sobrevive nele o antigo fogo
De aldeão travesso.
A cada vaca, no letreiro dos açougues,
Ele saúda à distância.
E quando cruza com um coche numa praça,
Lembrando o odor de esterco dos campos nativos,
Lhe dá vontade de suster o rabo dos cavalos
Como a cauda de um vestido de noiva.

Amo a terra.
Amo demais minha terra!
Embora a entristeça o mofo dos salgueiros,
Me agradam os focinhos sujos dos porcos
E, no silêncio das noites, a voz alta dos sapos.
Fico doente de ternura com as recordações da infância.
Sonho com a névoa e a umidade das tardes de abril,
Quando o nosso bordo se acocorava
Para aquecer os ossos no ocaso.
Ah, quantos ovos dos ninhos das gralhas,
Trepando nos seus galhos, não roubei!
Será ainda o mesmo, com a copa verde?
Sua casca será rija como antes?

E tu, meu caro
E fiel cachorro malhado?!
A velhice te fez cego e resmungão.
Cauda caída, vagueias no quintal,
Teu faro não distingue o estábulo da casa.
Como recordo as nossas travessuras,
Quando eu furtava o pão de minha mãe
E o mordíamos, um de cada vez,
Sem nojo um do outro.

Sou sempre o mesmo.
Meu coração é sempre o mesmo.
Como as centáureas no trigo, florem no rosto os olhos.
Estendendo as esteiras douradas de meus versos
Quero falar-vos com ternura.

Boa noite!
Boa noite a todos!
Terminou de soar na relva a foice do crepúsculo...
Eu sinto hoje uma vontade louca
De mijar, da janela, para a lua.

Luz azul, luz tão azul!
Com tanto azul, até morrer é zero.
Que importa que eu tenha o ar de um cínico
Que pendurou uma lanterna no traseiro!
Velho, bravo Pégaso exausto,
De que me serve o teu trote delicado?
Eu vim, um mestre rigoroso,
Para cantar e celebrar os ratos.
Minha cabeça, como agosto,
Verte o vinho espumante dos cabelos.

Eu quero ser a vela amarela
Rumo ao país para o qual navegamos.

(1920)



Até logo, até logo, meu companheiro,
Guardo-te no meu peito e te asseguro:
O nosso afastamento passageiro
É sinal de um encontro no futuro.

Adeus, amigo, sem mãos nem palavras.
Não faças um sobrolho pensativo.
Se morrer, nesta vida, não é novo,
Tampouco há novidade em estar vivo.

tradução dos poemas: Augusto de Campos

nossos agradecimentos ao blog: prosacaáotica.blogspot.com

domingo, 20 de março de 2011

antonio


imagem: flickr/darkmatter

hoje quem vem aqui é antonio.um paoeta perdid achado no espaço cyber. de verso amargo-boca seca- olhos aerados- esbugalhados braços e pernas e sem fé. pesado e leve-solto e escravo- barroco,barraco, em pleno 21.


codinome: zeno
essa que se arrasta incolume e impoluta pelas ruas das cidades
castigando o corpo em agulhas e perdizes
e só olha onde o olho não vê:
a história do olho
bataille em batalhas infernais
contra ânisas e anseios
seios nus se arrastando
bundas se tocando
tocam-se os hinos ao amor
quando nada mais resta dos restos dos restos
os rostos não se tocam: piaf chora, lamentando
as pérolas dadas aos porcos
gente suspira e pira
nas suas loucuras dissolutas:
os corpos se arrastam
aos trêmulos luizires
dee ruas congestionadas
colares, colírios, delírios,
boleros ensandecidos
e tangos amargos
vermelho verdes campos
de peadelo e sonho:
a pó-esia campeia
e descortina
os últimos panos
jogados sobre os pés:
não se aventurem mais,
não busque o absoluto
não reine aqui, poeta:
tudo está perdido
nad aestá pendido
nos lábios leporinos
do amor:
as tangerinas cheiram
aos calores de tanger
os desertos queimam
e apele explode:
casablanca, uma casa
branca
uma pomba morta
um escracho:
um quadro.

domingo, 13 de março de 2011

fernando ciscozappa


imagem: scrapygraphics/flickr


Hoje, o poeta de segunda vem de belo horizonte, e chega arrebentando: corações, cordas vocais vagas vogais consoantes dissonantes- pelas suas vias insurgentes-Versos reversos signos sonhos canibais
delírios verbais
...
E mais...muito mais...
Fernando ciscozappa- Fernando-como um cisco nas águas do rio, como um cisco kid aventureiro e defensor dos pequenos,
Como um zappa- Frank arrancando gritos uivos e gozos das palavras em transe,
Como um zapper zappeando poetas nos universos viscerais cibernéticos,
Fernando poeta que se faz e se refaz a cada instante:
tema, anátema, Antenado, escolado, descolado,
Um amante inveterado das palavras- um comedor de vocábulos, de sentidos, de cem tidos e ditos e idos momentos- um devorador de poesia, um transgressor dos sentidos
Fernando é um brincante, um bacante a dançar as danças de Baco e a embriaguês dos vinhos raros e dos poemas lúdicos, lúcidos, lúbricos,
dos tesões e tendões
Das odes aos corpos, às almas,
É um poeta das pequenezas e das minúcias,
Dos bichos, do barro, dos passarins,
Fernando é um poeta surpreedente, rascante, cortante,
Que desfaz, refaz e se compraz em alterar sentidos.
Senm-tidos alterados, versos impactantes, visões iluminadas da vida e do mundo:
Este é o zappa, o cisco, o fernando brincante e reinventor de si mesmo,que lhes trago hoje:
www.ciscozappa.blogspot.com


Vinhos, silêncios e gemadas

deus está morto
o poeta sabia
palmeira sem palma silencia

a mulher quando morde a fruta
sabe do gozo secreto
da raiz

gravidade

spanto: animais chegam nos sonhos
o dia faz contas: ela gravita
mexe nos bolsos da criação
eu tomo vinho
ela dança ao som de céu

remexo
ela acorda declamando sonhos de um oriente em portugal


as coisas vão acontecer até o seu próprio início
(acontecimentos criam uma diferença entre o passado e o futuro)
acerto a sorte
ela estende o corpo no varal do meu silêncio


no teto do edifício
incendiamos a cidade
este moderno hospício.

Prosa quando arboriza é poesia.
.
.
.
.

um broto de idéia nasceu ali entre a axila e o seio esquerdo
aquele corpo branco arborizou-se sem alvoroço
arvoreou-se!


as sombras vultuosamente estenderam-se pelas calçadas
adornaram pedras
rabiscaram desenhos minerais


o corpo destravou-se da pele-casca
fez crescer uma dúvida acima das sombras
incerta, nem curvilínea, nem mesmo reta
a dúvida se alojou em um galho na altura do umbigo
ali ficara
como coisa irrigada
amparada por uma colônia de microseres
dispostos a decompor todas as certezas
uma a uma / dia a dia

em diálogos íntimos com o vento
a descortinar um balé cromático
as folhas dançaram em queda enigmática
resistiram como se pássaros fossem e nesse adejar
sussurraram poesias sobre a transitoriedade das coisas

e quando tudo virou
galhos folhas seiva síntese

nas costas
por toda ela
nasceram flores amarelas
a tergiversar verões enamorados por primaveras

sem que ninguém se desse conta
a não ser os encantados e aqueles descontados que ninguém conta
aquilo que um dia foi idéia semente
que brotou
que arborizou-se
infloresceu
virou fruta
ganhou luz singular
a cor vermelha


deram-lhe o nome abreviado de prosa
a mais pro-saborosa prosa




nas ciclovias me movo

ando com o vento
a acordar-me memórias
ando com territórios
a desfronteirar-me pensamentos
ando com a terra
a lavrar-me histórias
ando com o futuro
a encurtar-me distâncias
ando com uma voz indígena latina negra
a insurgir rupturas



ando com gestos acenos canções inauditas
a quebrar ondas
a implodir pensamentos

orações
a trincar a razão
a arrancar os dentes de ferro dos tribunais

ando a desc.rever-me
a modi.ficar-me
a traduzir-me

almejado
adentro
o
inacessível...

terrorismativo

em secreta secreção
preparo
uma ogiva explosiva
líquida
espessa


no interior
da gengiva


quando beijar-me
exploda-me!


corpo ex.ame

o corpo é corda roldana roda viva

{? dorme ! acorda ?}

esculpe
dolores auroras cicatrizes

o corpo cópia
cópula anúncio fantasia

propaga enganos
apropriada propaganda
entre.tem corpos nos shoppings
nas vitrines das acadêmicas lojas
com cápsulas de êxtase
vende saúde
a saúde das bactérias
das sojas
dos naturais conservantes
a saúde dos bacilos das criações da ciência
o corpo morde mastiga engole
engorda a indústria das vitaminas
o corpo geme torto e direito
transformista
modelo e manequim
global e platinado
medidas que vendem corpos
maliciosamente ocos
em deliciosas cascas musculares
magros de verbos carnes alma

o corpo corporifica artifícios
anuncia o infinitamente novo
esconde o infinitamente precário

o corpo vive os efeitos do instantâneo
em busca de um pretenso futuro
sem defeitos

voa
pena que já não anda
sustenta
envergadura pequena
frágil
some
no canto da cela
no espaço da vida
encerra
em cena
ária decomposta

transita entre ondas e matéria
sai
entra em transe
em garrafa
o corpo gênio
corpo músculo sem sangue
campo de conflitos com receituários prontos
território das mais confusas emoções
quanto mais confusas menos vividas
quanto menos vividas mais desperdiçadas
corpo índice e indício

o corpo principia precipícios

(feixe de carbonos cruzados
atados às ancas do tempo)

há alma?

será que ainda sente o animal tão presente?

tão so.mente
a mente sistemática do tempo estabelece o corpo capital
produz acelerados enxames de símbolos descartáveis
agora: renováveis


essa mente

ávida de corpos
ansiosa por se reproduzir

quarta-feira, 9 de março de 2011

segunda-feira próxima estare,mos retornando, com mais um poeta de segunda.
estamos também em: www.atipoesia.blogspot.com; musapornografica.blogspot.com
até lá!

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

nydia bonetti


imagem: Deep Blue/Photomarathon Berlin

nesta segunda, apresentamos aos leitores uma poeta paulista- de Campinas - Nydia Bonetti- blog Longitudes- www.nydiabonetti.blogspot.com

Nydia: poeta das delicadezas, das leves tessituras, das filigranas, das nuances...
Nydia: poeta das tramas e urdumes de um vasto tecido azul- seda diáfana, sede de poesia, alvuras de garças, puro estado de graça: ler nydia é como levitar entre o azul e o azul: do azul mais profundo ao azul mais transparente, essa poeta nos leva aos píncaros, nos eleva ao sétimo círculo dos céus, nos enleva com seus doces brocados e bordados, lava nossas almas com seus poemas puros e serenos: haicais de pleno encantamento.

nydia desnuda nossas almas, corações e sentimentos: e fala da fluidez da vida, e da perenidade dos sentires. seus cantares, mesmo quando falam da fugacidade, da precariedade das coisas e da temporalidade das gentes ainda assim transmitem uma paz, um zen-timento de calma, de alegria, de entendimento dos seres.

são os rios que correm, plácidos e eternos, são as folhas que caem, secam, viram humus e renascem,com todo o vigor, é a ânima da vida se perpetuando, se refazendo, são as pedras que falam a linguagem mineral, os passarinhos que circundam seu espaço e cantam as cantigas de todos os dias- é a vida, enfim, que nydia nos dá de presente nesta poesia de pureza, leveza, e de aguda percepção das finitudes.

tudo é efêmero - tudo é passageiro - mas enquanto vivemos, vivamos a plenitude- ela quer nos dizer com seus versos encantados- curtos, plenos, vivos.

Nydia é a poeta de hoje: mergulhemos com ela, sem escafandro, nesse rios azuis infinitos, de nuances diversas, lancemo-nos coma ela nesses céus de anil- e como criança vamos rabiscar o azul do azul do céu - lapidando lá nossos versos e nossos sentires.



*

faz-se em mim desejo de silêncio
forte pleno denso
mão
que me aperta a garganta
e os pássaros
aprisonados
tantos
em vão
se rebelam [ por ora
o vôo
não se dará
e o canto


paisagem

ervas daninhas
mourões
apodrecidos
onde pássaros pretos
pousam
completando o retrato
do abandono


estrada ( rio...

1

passou
na paisagem feito um risco
de espátula
borrou
e o que seria estrada
tornou-se rio
lugar
onde não posso ir
sem que me molhem os pés

2.

suave
caminhar entre as águas
deixar-se ir
[...fluir

3.

agora eu sei
que todo rio vai virar mar
(se tiver sorte
e não morrer sufocado)
e se secar
será
finalmente estrada
[...que me leve


humanidadesmais uma vez

minha alma oscila: - entre céu e inferno
doçuras e amargores

- descrenças e esperanças, delícias e dores

mais uma vez

agradeço a meu Deus por sua humanidade
- e pela minha

Milagre

nasceu
de goiaba um pé

entre o tijolo do muro
e o concreto
do chão do meu quintal

cresceu

nele meu cão se abriga
do calor do verão

único verde
a humanizar do cinza
a aridez — milagre

de passarinho


Mal ou Bem-Dito

busco palavras - onde as encontro? todas tão gastas, puídas, todas
tão - sinônimas

manifesto verbal ou escrito. fonemas sem nexo, vocábulos. busco
articulado som. onde?

o silêncio se impõe. o silêncio é estado de quem se cala. a ausência
é estado de não presença

o estado é modo de estar ou ser. unidade dividida. falada língua. mãe
nação. onde?

soberania - extensão considerável. lagos, rios, solos – o chão. baias
geografias

geo - metrias, centrias, fasias – engulo terra. vomito palavras. tantas
jogo sujo. onde?

salvos pelo verbo, campo minado – território sitiado: minha pátria
língua. derrotado silêncio

quando não se tem o que calar, melhor falar. fica assim então o dito
pelo não. ou quase - mal ou bem. dito

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

mercedes lorenzo


imagem: Skantzman/Flickr


a poeta de segunda, hoje, é mercedes lorenzo-
www.cosmunicando.blogspot.com


e de sanpaulicéia revirada chega o canto da palavra
e o encanto das imagens
desta poeta maior.
mercedes- de sedes tantas: sede da palavra que, lúbrica, se derrama
como leite bom,
trazendo à tona memórias, sentimentos
e as tantas signifâncias que delas podemos tirar.
mercedes traz luz às palavras-
rabiscadas sobre a pele do papel,
sobre a tela cibernbética-
sobre a tela dos artesãos da cor:
como elementos vivos, como cheiros:
e a nós cabe decifrá-las-
e recriá-las, a cada toque,
a cada torque dos dedos sobre o teclado
a cada risco de tinta
que escorre
lirismos entre os dedos

mercedes traz à vida imagens naturais e maturadas:
: fotogramas, fotodramas, lúcidos ensaios,
que falam por si sós:
poesia muda de se comer com os olhos,
de se beber com os ouvidos bem abertos,
de se embebedar
ouvindo o canto de sereia dos fotopoemas
e dos poemas fartos de tanta beleza...

mercedes: poeta concrelirica-
concreta nas raízes, nas metáforas, nas imagens
lirica na palavra que se derrama, sem cerimônia,
pelos seus versos que cantam, que gemem e que choram:
às vezes concisa, precisa, esteta-
outras vezes lírica em suas dúvidas e delicias:
imprecisa ao traçar sentidos e sentimentos-
lírica: como a vida quer

mercedes e suas sedes de tanto dizer- e do tanto, trago um pouco:


Há (H)

há sempre um meio
fluido
em meio a tudo
de compartilhar o nada
e ser de novo
mundo

E então ela encheu a noite

... de hoje
intersecção de nós
entre tanto
pensamento satélite
carruagem no céu
de luz difusa
abusada-mente linda
e vã.

Das Jardinagens

De todas as minhas acontecências
tem aquelas que repousam (jas)mim
e ficam sementemente cálidas
esperando chuva
Outras de gênio mais alecrim
brotam deserto, furam geada
ignoram inverno e reticências
sem se importar com mais nada

...são essas que me alfazemam


"Era Briluz"

porque me cabe a noite
nela me demoro.
vênus pisca numa torre imaginária
em cima do morro
vestígios do sol em segunda mão...
eis a senha
que sabe a silêncio.


Morph eu

dorme
meu
homem
teu sono leve
teu sonho justo
gasto
nos trilhos
dor
mentes
repousa o susto
dissolve a
dor
me
u homem
no afago lento
de
senhos
na epiderme
no epicentro
que eu
sismo
que eu
tremo
e
traço
geograficamente
em teu cansaço
que é
meu
amém
my
man.

poema branco

em linha reta
o risco é calculado
a língua se curva
na sede da palavra
a pena engana a folha
branca em essência
de tudo que turva
conturbando a via
o verbo, a vida
véu de inexistência
come a poesia

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

adriana godoy


imagem: Josefe aka Hipnosapo/ flickr

hoje, a poeta de segunda é Adriana Godoy - www.driaguida.blogspot.com

mineira, de belo horizonte, adriana escreve e enquanto canta as dores e espanta os espantalhos, debruça-se sobre o cotidiano- e vê as nossas incoerências e inconsistências- desnuda os nossos medos e joga luz sobre as nossas buscas- nosso caminhar no mundo em meio a um caos desfigurado- nós a cada dia nos desconfiguramos como se fôssemos máquinas avariadas-
e nem sabemos mais para que lado atirar nossos torpedos.
nesses tempos de fraquezas, covardias, de metafísicas baratas, crenças inúteis, fadinhas fodas, gnomos industrializados e elementais que tais, adriana nos convida a crer no homem, no ser humano que gravita
entre a órbita de si próprio
e nas constelações alheias...
e vê discos voadores planando nos céus das bocas
e vê bocas que se grudam, buscando os céus
e sente o inferno pulsando, ao alcance dos dedos
e dos medos...
mineira, sabe das profundezas abissais dos nossos vales interiores
e das elevações místicas das montanhas das gerais...
mas é muito mais, esta poeta de hoje:
é a voz que canta os homens
e suas moradas diversas.


canto meio desesperado

me ensine a percorrer esses
caminhos sem sombras
me diz embora o dia nublado
e os homens cinzas
que a noite vem com estrelas

tenho as mãos secas de agonia
imploro para que preserve os meus olhos
esses ossos e o coração já vacilante
que a morte é certa mas não precisa ser agora

descobri que tenho me escondido em vão
e o meu grito se estende como uma estrada longa e sem volta

vejo em você o que não queria ver em mim
e me assusto sempre
então me mostre o que não sei
e deixe a marca de seu amor

me contamine
nesse dia
que essa febre não vai me matar
pelo menos hoje não


desde que você me disse que não acreditava em discos voadores

desde que você me disse que não acreditava em discos voadores
mesmo quando te contei que vi um enorme pairando sobre a minha varanda
fiquei pensando no que você acreditava
além desse medo católico e evangélico
de ser condenado ao inferno
não precisa disso, cara
você já está condenado ao inferno de viver
nesse cartesianismo barato regado a um deus que julga e condena
está condenado a acordar cedo todas as manhãs e trabalhar feito mártir
e esperar desesperadamente o final de semana para encher a cara
e poder falar as merdas que você fala e se achar o senhor da verdade
de entrar em seu carro de luxo e me convidar para desfrutar de sua companhia
talvez em um motel
e com seu perfume francês arrotar canalhices
não, cara
não quero mais ficar a seu lado
mesmo que suas mãos saibam os caminhos que me levam ao paraíso
quero ficar aqui com meus discos voadores e poesia
tomar vinho com amigos e escutar música de verdade
e não ficar ouvindo esses sertanejos de merda
que ficam nos cedês espalhados em seu carro
não vou te aceitar mais, cara
mesmo que sinta falta de seu beijo
na minha vida não cabe mais você

vejo-o fazendo café

trago a vida entalhada em contas papéis livros
lembro quando via sessão da tarde e a tarde não passava nunca
hoje as tardes passam e não vejo
a noite vem como o dia
a noite é a mesma
mesmo quando você vem e diz que me ama
então olho o homem que atravessa a rua
e está com flores na mão
o livro que li há dez anos
vai ser o mesmo se o ler hoje?
vejo-o fazendo café
e a minha angústia costurada em seu pijama
e a vontade desesperada de fugir

dessas noites em que estava lavando pratos

o detergente faz espuma na pia
os pratos ficando limpos no escorredor
os pensamentos sujos quero um cigarro
uma música um blues o céu escuro
meus gatos escondidos em silêncio

duas taças de vinho quase cheias
os pés no chão e pálidos
uma janela uma luz acesa do outro lado

as garrafas de vinho abertas e vazias
leio os rótulos e penso num poema
um inseto esquisito vindo de outro lugar
voa em torno das garrafas vai até a luz e volta
o tempo não tem pressa meus olhos o seguem

os pratos vão ficando limpos
as panelas ficam pra depois

pego uma taça e dou um gole
acompanho o blues num inglês ruim

o inseto se vai e bebo mais
olho a noite escura os pratos brancos
alguém me espera no sofá

estranho pensar no abandono de toda ambição

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

nina rizzi

nina rizzi- me-nina so-rizzi - poeta das boas
que nos traz a brisa e o frescor dos ventos
de fortabeleza bela-
nina- poeta maior- das coisas pequenas- dos sentimentos guardados- dos gritos arrrancados dos peitos-
poeta dos amores grandes e miúdos do cotidiano- dos fazeres e desfazeres afazeres de todos nós- que brigamos, brilhamos e nos afogamos entre nossos lúdicos jogos de faz-de-conta: almejando céus e nos arrastando aos infernos-
nina- poeta pop- dessas coisas que nos movem dessas coisas que nos alimentam- poeta de cactos e de cravos, de espinhos e de rosas - poeta de neologismos e de palavrinhas e de palavrões- nada aqui escapa de sua argúcia e de sua astúcia - as pendengas e as mandingas e o amor. ah! esse decantado e cantado em prosa e verso.
publico hoje alguns( entre tantos demais) poemas dela: aragens de ar fresco, jatos de água refrescante
na poesia e na língua:
o sorriso de nina- solto- como se fosse o sorriso do gato de alice-
ali se lê: ode à vida!


outra arte

nascer um pouco
a cada dia. perder-se, morrer
um pouco a cada dia


um


a música é alegre
geladeira, fogão, chuveiro frio
finalmente meus

valha! diabéisso?
esses cacos insistentes
no banheiro, na cozinha,
nas paredes?
: é em mim...
a alegria é dos gados
o lar,
vazio

rhythm and poetry ou bethoveeniana
nina rizzi


o sofá, a sacada, o colchão imundo jogado no chão
e tudo quase-tão escuro.
tese xvnina rizzi

enfio cada um dos dedos nos dez
mil anos de história, gracejo.

não guardo a perícia no trato com moscas e murisókas
carapanã-pinima, sou um espanto.

como quem prepara o melhor vinho calabrês
pisoteio, levanto a saia, giro espelhos, vos vomito.

que não sou eu, mas a indiferença,
o peso morto da história


goiabada-cascãonina rizzi


gosto do jeito dele de não me olhar quando cozinho,
de não se importar enquanto limpo os vômitos, as cinzas, seus restos.
até mesmo quando olha os seios ou as pernas das moças pela janela.


mas bom mesmo, gosto mesmo, das vezes que ele desaparece
e posso dormir, ser eu mesma, sozinha ou não, mulher<

Transitoriedade
há sete, dez anos talvez
na esquina daquele beco
havia lá um boteco
de quinta
saudosa lá voltei
contemplei as mesmas paredes descascadas
e bancos e mesas e copos
sujos surrados
a privada ainda quebrada
(o mesmo petisco e a cerveja gelada)
o mesmo cheiro no mesmíssimo dono
que é o mesmo
: gordo oleoso pastoso
quase medonho quase deus
entre o imundo imutável
tudo igual
: menos eu

domingo, 23 de janeiro de 2011

quando tudo te faltar


imagem: Stebbi/Flickr

teça tua cama de nuvens
brancos algodões
mas não se deite nela:
antes, prefira os catres
afiados de espinhos e facas
dos faquires
a te lembrar que célere
o tempo escorre
por entre os dedos
e que a vida é sopro
é subito respiro
que não se aprende
à maciez
tepidez e delícias
é luta pelo ar
pelo estar pelo fazer
é lenta
tenta te lembrar
desses catres e espinhos
no auge dos ócios
falsos e fatais.

colhe do teu pomar
a maçã mais olífera
perfume azul em moldura
de art-deco
perfeita arquitetura
e nervuras dos sentidos
não, não a leve à boca.
deixa-a
descansar sobre a mesa
para outro tempo.
prefira agora o amargo
da alcachofra
e o insosso dos destemperos
nem ácidos, nem picantes,
apenas sabor de amargo
que sonha com a doçura
daquela fruta vermelha
sobre a mesa.

não sorva de vez a vida
num fastifude rampeiro
dinheiro, dinheiro, dinheiro
reserva: como numa velha receita
preserva seu tempo, seus dias,
gasta-os
com parcimônia e elegância
até que não sejam mais:

e nesse tempo que flui
como rajadas de ventos
ou carícias de aragens
retoma o que está guardado:
a tua cama de nuvens,
os teus frutos proibidos
os teus momentos guardados
no escaninho da alma
e ai, te farta de poesia
quando tudo te faltar.