quarta-feira, 31 de agosto de 2011

circulos de giz

imagem: flickr/jonny wonny


riscamos circulos de giz
como a querer imitar espaços
entre desvãos
onde nos encontramos desvalidos
e não nos entendemos como seres
Com propósitos definidos. indeciframo-nos
a cada frame, a cada quadro em movimento
nos quedamos, impregnados
de cheiros de guerras e garras
de pássaros
que voam raso estraçalhando
Cordeiros
aves de rapina, aves de arribação
somos nós?
dentro dos círculos de giz
A vida pode fruir muito mais lenta,
horas que passam não passando
surpresas zero
sentimentos calculados
frio, muito frio,
em piso de pedra
e espiral
de cal.
mas fora do circulo a vida urge
e o sol se insurge,aquecendo
as pedras frias, sonolentas
e as águas, que escorrendo,
desfazem os círculos de giz.
é a vida que ruge,
feito um leão aprisionado
e diz:
há mais, muito mais
as aves alçam seus voos
e navegam estranhezas
quando a noite cai.                  
 

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Estação quarta

Da dor

quando a mansidão e a delicadeza encontram a dor e o desgosto,
o descaso e o sofrimento, o corpo padece e a alma sofre
nada há no mundo que se compare à dor da perda: uma estação no inferno, eivada de lamentos e horrores, uma viagem nas barcas solitárias dos homens ermos, que de repente se encontram órfãos: de pais, de mães e de si mesmos,
exilados de seus próprios corpos

das descobertas

primeira estação, segunda, terceira, quarta estação: estações:
bordo, bombordo, estibordo, aeroportos, aeroplanos, tantos planos,trens,
gares e galeras, galerias dos que se foram,
memorias dos que virão, VERÕES verões
estações de idas, de voltas, a descoberta dos primeiros amores,
numa estação,oracoes, erecoes, num estar são assim de bem com a vida,
num barco a vela, num avião, numa jangada,
titanic reinventado,
uma quilha,
na pilha
uns amores inteiros:
descobertas.

dos ires e vires

depende. de repente
qual é a quarta estação? depende
do nosso estado. de corpo, de espírito,
do nosso estado de estarmos
tranqüilos e serenados, espinha reta,
dedo em riste,
carne dura
mente abertalerta ao infinito:
assim, é primavera:
plenitude, aberturas, cheiros,
cores, planos,
pianos ao luar, sóis refulgentes:
gente que ziguezagueia
como abelhas
se afogando
nos néctares alheios.

se estamos no entanto,
em épocas outras,
de desencantos, de desaalentos,
de corpos mornos,
porém sozinhos
sem tônus,
a quarta é o outono:
folhas que caem,
versos que se apagam
poetras que cantam
como quem morre
de ócios e vícios
cigarras temporas

se os corpos queimam,
e as veias ardem
os sentidos
se alardeiam
aos quatro ventos
somos das águas, dos mergulhos exteriores
somos verão
desfrutares somente
nao interiores.

se o corpo cedea ao peso
de tantos planos,
de tsantos caantos
desencantados
de tantos brados
tantos braços
todos os abraços
partidos:
os tempos idos,
vívidos na memoria
que se insistem jovens
em corpos fracos
a estação quarta
nos inverniza:
e não há vernizes
ou retóricas
que nos tragam os lírios
que levaram os rios.

choram as flores
deixadas ao relento
ao sabor das águas.

Se os corpos se acendem
E as veias ardem
Em sentidos primários
Se alardeiam
Aos quatro ventos
Somos a estação
dos mergulhos exteriores
Somos verão
do corpo: não alma:
Desfrutrares somente
Sem interiores.

Se o corpo cede ao peso
De tantos planos,
De tsantos caantos
Desencantados
De atantos brados
De tantos braços
De todos os abraços
Partidos:
Os tempos idos,
Vívidos na memáoaria
Que insistem jovem
Em corpos fracos
A estação quarta
Nos inverniza:
E não há vernizes
Ou retórias
Que nos tragam os lírios
Que levaram os rios.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

canto dos silencios

nestas noites escuras e absolutas
de breu escancarado como bocas
a devorar rotinas
como pinturas de goya
ninguém pode ou vir os gritos
desta alma silenciosa
que no frenético carrilhão
de sinos estridentes
ou de carrosséis inocentes
de gentes nem tanto
se queda, impávida,
e se recolhe aos seus
íntimos domínios.

será o caminho este único
rúnico destino de dúvidas
e temores
este desfiar de rosários
de rosas ressecadas
dissecadas visceras
sem virtudes ou culpas?

nestas noites sem rumo
sem estrelas nem cometas
apenas negrume
entrego-me aos vícios das horas
e deixo que o corpo adormeça
em brasa
embora febres
não nos tragam alívios:

nestas noites escuras e absolutas
ninguém sabe ouvir os cantos
ou os silêncios
de corações emparedados
entre muralhas.