quarta-feira, 10 de agosto de 2011

canto dos silencios

nestas noites escuras e absolutas
de breu escancarado como bocas
a devorar rotinas
como pinturas de goya
ninguém pode ou vir os gritos
desta alma silenciosa
que no frenético carrilhão
de sinos estridentes
ou de carrosséis inocentes
de gentes nem tanto
se queda, impávida,
e se recolhe aos seus
íntimos domínios.

será o caminho este único
rúnico destino de dúvidas
e temores
este desfiar de rosários
de rosas ressecadas
dissecadas visceras
sem virtudes ou culpas?

nestas noites sem rumo
sem estrelas nem cometas
apenas negrume
entrego-me aos vícios das horas
e deixo que o corpo adormeça
em brasa
embora febres
não nos tragam alívios:

nestas noites escuras e absolutas
ninguém sabe ouvir os cantos
ou os silêncios
de corações emparedados
entre muralhas.



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