A poeta que lhes trago hoje vem de Alvinópolis- cidade pequena encravada entre as montanhas das Gerais, berço de poetas, terra de músicos, de artistas de todos os naipes...
o sentimento mineiro perpassa estes poemas, que extraí do site www.overmundo.com.br- perfil Tereza Primola - e seus silêncios falam mais do que mil palavras...
o mineirismo aqui explode, muito silencioso, muito zen, uma busca pela paz interior que se encontra, quem sabe, no riscado ingreme dessas montanhas nossas de cada dia...
e o sentir do tempo, odesfiar das contas, o desenrolar das histórias, tudo é gostoso de se ler
e de se sentir:
aí vão cinco poemas:
LEMBRANÇAS DE LÁ
Bambolê, amarelinha,
queimada, barquinho, regato
bala de bico...
brevidade - a vida é breve!
Bola de gude- sei lá!
É a vida...
Assim,com reticências e acontecenças
se faz história.
Assim se contam estórias num belo teatro
estórias de outros tempos
em que meninos brincavam
com bichos, plantas, pipas
e a rua era
terra livre, plena de aventuras.
Rezava-se terços, o sino soava
e sorria para a praça.
E um desenrolar de folhas
no desenrolar dos novelos urdidos.
Nos teares daquele tempo
eram tecidos e tecidos
contos e cantos de roda
e casos, da infância ida,
dos dias vividos, vívidos na memória,
dos ares passados
por entre montanhas
em meio aos vales
e margens dos rios.
Entre casas, silvos e amigos
Alvinópolis - pequenina, ardeente e bela
(ainda mais pequenina
na infância distante).
Cotidiano
Estamos presos,
por fios de seda
aos designios divinos
e a vida corre
em nossas veias
como um vinho raro
que sorvemos, gole a gole,
como se fora o néctar
das vinhas de Deus.
Vivemos. E isto nos basta
pois é grande e belo
o ofício de viver.
E por vivermos,
sonhamos,
e agimos,
esperamos
e nos deitamos às sombras
das frondosas árvores
comendo dos frutos
do conhecimento
qual Adões e Evas redivivos
ressurgidos das próprias
cinzas
fênixes desenjauladas.
E assim caminhamos.
Até onde
ainda não sabemos.
Apenas sabemos
do prazer da caminhada
da brisa que sopra no rosto
do gosto da fruta
que nos mata a fome
e do frescor da água
que nos reanima.
E basta-nos isto
nada mais do que isto:
respirarmos e amarmos
para sermos felizes
Maçã em papel de seda
Pressentir
o sabor da maçã
adivinhado no papel
azul que a embrulha.
Perceber
o belo da flor de maio
pelo seu cheiro
aroma que invade
o quarto.
Antegozar
as delícias da luz
pelo entrever das frestas
que se infiltram
na caverna escura.
Seguir assim.Adivinhando
delícias
nos jardins do Éden
e seguir
passo a passo
um passo de cada vez.
A vida se faz assim.
A cada dia, um canto novo
um novo olhar
um re-caminhar.
Nas
curvas do tempo
Pela janela, olho
o desfiar do tempo
que nos antecede
que nos sucede,
sinto a sede
das coisas que insistem
em querer ficar
vivas,na lembrança.
Volto à infância
tempo de puros
momentos lúdicos
ilógicos
jogos de armar
encantamentos primeiros
e me descubro
assim como flor,
que fenece,
sem saber o porquê.
Parece que foi ontem.
Menina, já prá escola!
Menina, prá dentro,
Menina, seu pai não gosta
de saia curta e baton!
Menina, cuidado com a vida,
Menina, cuidado com o mundo!
E eu a me balançar
no balanço do tempo.
Olho lá fora, as estações
que se sucedem
indiferentes à queda
ou ao vô dos pássaros,
das flores,
das coisas,
e me sinto assim,
perdida no tempo.
Onde foi que deixei
meu coração?
Onde foi que esqueci
os sonhos todos?
Em que gaveta guardei
os meus segredos?
Meus modos,
meus medos
meus gritos mudos,
Quando foi que me esqueci
numa curva qualquer
da minha estrada?
Visão do paraiso
Singrar-me
as veias
sangrar-me
os mares
jorrar-me
as marés
sujar-me
como ári
dos novelos
cantar-me
como árias
italianas
entoar-me
como cântico
dos cânticos
sonhar-me
como alvos
rouxinóis
como sóis
brilhar-me
e enfim
deixar-me
como endeixa
ao luar.
Pousar
como pássaro
e re-pousar
no teu colo
porto meu.