quarta-feira, 13 de junho de 2012

tempo


não posso deter o tempo.me ter]
o tempo não depende de meu gesto.
nem de vaidosa vontade.ele é rude.
sem rédeas,vai e volve,
à sua própria vontade.
nem como quebrar silêncios tenho
que de tão ruidosos
se instalaram na memória
e nos hipocampos de flores
que transbordam histórias.
não posso me ter em suas rimas
primas obras, novidades, relicários
calcários que se arvoram
em diamantes:
mas quero ser do seu tempo
cúmplice e artífice
me deixando em cada esquina
onde você, com seus mapas,
insistir em morar:
quero perder-me sem rotas
em retas curvas
turvas resistências
quebradas
em cada abraço seu, em cada olhar.

terça-feira, 3 de abril de 2012

oboé


no vácuo do tempo
o sopro de um oboé:
um gemido longo, louco,
rouco,
ecoa até hoje
nos tímpanos frouxos:
éramos nós
erramos os nós
e não nos desfazemos
das tralhas e trilhas
que nos prenderam ao leme
e o limo cresceu:
é hora!
abaixo as amarras
e as armas 
apenas amarás
todos os teus dias

domingo, 25 de dezembro de 2011

paz

natal é canto de paz
sarinho,
trinando alto,
tinindo:
nasceu um menino, nasceu um menino,
aleluia, ei!
quantos meninos nascem
a cada segundo?
o mundo,hummm, o mundo
é uma bola de gude,
é uma bala de goma,
o mundo está em gesta:
nasceu um  menino
e o passarinho canta
na floresta.

sábado, 17 de dezembro de 2011

fotografia

repousa sob mim
tua lembrança
branca fumaça
que se esvai
no tempo:
ontem, ontem,
totens, tudo
nus brincávamos
na ciranda
de corpos:
puros, 
sujos,
porcos,
anjos,
gozo ininterrupto
no vigor dos anos.


repousa hoje 
na parede branca
um sombra vaga
duas sombras tontas
de tantos quereres
mas o tempo frágil
já se foi
:fotografia.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Tereza Primola


A poeta que lhes trago hoje vem de Alvinópolis- cidade pequena encravada entre as montanhas das Gerais, berço de poetas, terra de músicos, de artistas de todos os naipes...
o sentimento mineiro perpassa estes poemas, que extraí do site www.overmundo.com.br- perfil Tereza Primola - e seus silêncios falam mais do que mil palavras...
o mineirismo aqui explode, muito silencioso, muito zen, uma busca pela paz interior que se encontra, quem sabe, no riscado ingreme dessas montanhas nossas de cada dia...
e o sentir do tempo, odesfiar das contas, o desenrolar das histórias, tudo é gostoso de se ler
e de se sentir:
aí vão cinco poemas:  

LEMBRANÇAS DE LÁ 

Bambolê, amarelinha,
queimada, barquinho, regato
bala de bico...
brevidade - a vida é breve!
Bola de gude- sei lá!
É a vida...

Assim,com reticências e acontecenças
se faz história.
Assim se contam estórias num belo teatro
estórias de outros tempos
em que meninos brincavam
com bichos, plantas, pipas
e a rua era 
terra livre, plena de aventuras.

Rezava-se terços, o sino soava
e sorria para a praça.
E um desenrolar de folhas
no desenrolar dos novelos urdidos.

Nos teares daquele tempo
eram tecidos e tecidos
contos e cantos de roda
e casos, da infância ida,
dos dias vividos, vívidos na memória,
dos ares passados
por entre montanhas
em meio aos vales
e margens dos rios.

Entre casas, silvos e amigos
Alvinópolis - pequenina, ardeente e bela
(ainda mais pequenina 
na infância distante).

Cotidiano

Estamos presos, 
por fios de seda
aos designios divinos
e a vida corre
em nossas veias
como um vinho raro
que sorvemos, gole a gole,
como se fora o néctar
das vinhas de Deus.

Vivemos. E isto nos basta
pois é grande e belo
o ofício de viver.
E por vivermos, 
sonhamos,
e agimos,
esperamos
e nos deitamos às sombras
das frondosas árvores
comendo dos frutos
do conhecimento
qual Adões e Evas redivivos
ressurgidos das próprias
cinzas
fênixes desenjauladas.

E assim caminhamos. 
Até onde
ainda não sabemos. 
Apenas sabemos
do prazer da caminhada 
da brisa que sopra no rosto
do gosto da fruta
que nos mata a fome
e do frescor da água
que nos reanima.

E basta-nos isto
nada mais do que isto:
respirarmos e amarmos
para sermos felizes


Maçã em papel de seda
 Pressentir
o sabor da maçã 
adivinhado no papel
azul que a embrulha.

Perceber
o belo da flor de maio
pelo seu cheiro
aroma que invade
o quarto.

Antegozar
as delícias da luz
pelo entrever das frestas
que se infiltram
na caverna escura.

Seguir assim.Adivinhando
delícias
nos jardins do Éden
e seguir
passo a passo
um passo de cada vez.

A vida se faz assim.
A cada dia, um canto novo
um novo olhar
um re-caminhar.

Nas curvas do tempo

Pela janela, olho
o desfiar do tempo
que nos antecede
que nos sucede,
sinto a sede
das coisas que insistem
em querer ficar
vivas,na lembrança.

Volto à infância
tempo de puros
momentos lúdicos
ilógicos
jogos de armar
encantamentos primeiros
e me descubro
assim como flor, 
que fenece,
sem saber o porquê.

Parece que foi ontem.
Menina, já prá escola!
Menina, prá dentro, 
Menina, seu pai não gosta
de saia curta e baton!
Menina, cuidado com a vida,
Menina, cuidado com o mundo!
E eu a me balançar
no balanço do tempo.

Olho lá fora, as estações
que se sucedem
indiferentes à queda
ou ao vô dos pássaros,
das flores,
das coisas,
e me sinto assim,
perdida no tempo.

Onde foi que deixei
meu coração?
Onde foi que esqueci
os sonhos todos?
Em que gaveta guardei
os meus segredos?

Meus modos,
meus medos
meus gritos mudos,
Quando foi que me esqueci
numa curva qualquer
da minha estrada
?


Visão do paraiso

Singrar-me
as veias
sangrar-me
os mares
jorrar-me
as marés
sujar-me
como ári
dos novelos
cantar-me
como árias
italianas
entoar-me
como cântico
dos cânticos
sonhar-me
como alvos
rouxinóis
como sóis
brilhar-me
e enfim
deixar-me
como endeixa
ao luar.

Pousar
como pássaro
e re-pousar
no teu colo
porto meu.




sábado, 1 de outubro de 2011

mesmo que tardes

 imagem:  richard cawood/flickr

entranhando-nos
estranhamos
nossos interiores.
estagnamo-nos
como estalagmites
nas cavernas profundas
sem coragens.com voragens
de monstros
que não sabem se voam,
hiero-grifos ou pégasus
ou se hibernam
mamutes
preancestrais.
e a poesia
o que tem a ver,
com isso?
tudo.
caminho de redescobertas
mesmo que tardes.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

mosaicos


  • imagem: mmarftrejo/flickr


maria joão josé
pedro paulo roberta carmem
elena irina nina
cláudia marece milena
paulo joaquim
mimi
contas de um colar
cantos de calor interior
vidas:
o filho fugiu de casa
a menina está grávida
aos doze
o pai mora na espanha, nem sabe
qual vai ser a cor
dos olhos do seu filho:
seus filhos
são os que virão?
 menino atropelado
pelo bêbado
baleado
na porta da festa
basta
a mulher
nas curvas do tempo
na cadeira de rodas
esclerosesmúltiplas
dores, sem rumos,
sem prumos
uroborus
engolindo o rabo
ri de todos nós:
o ralo é aí, logo abaixo,
e o infinito é um 
jogo de sedução:
marias,robertos, joanas,
paulinhos, claudios e jorginas
meirices, candices,
sandices:
afinal, quem somos nós
nesse mosaico?